Nesta terça-feira, 6 de junho, príncipe Harry chegou ao Tribunal Superior de Londres para testemunhar no caso de hacking de telefone contra o Mirror Group Newspapers, tornando-se o primeiro membro da realeza britânica a testemunhar em um tribunal em mais de um século.
Em seu depoimento de 55 páginas, publicado na íntegra pelo New York Times, Harry escreveu que "genuinamente sinto que em todos os relacionamentos que já tive - seja com amigos, namoradas, com a família ou com o exército, sempre houve um terceiro envolvido, ou seja, a imprensa sensacionalista."
O caso de Harry, de acordo com a BBC (que foi arquivado em 2019), envolve 148 artigos publicados entre 1996 e 2010. Seu depoimento ocorre quase um mês depois que o MGN, dono de publicações como Daily Mirror, Sunday Mirror e Daily Express, pediu desculpas ao Duque de Sussex por uma única ocorrência de coleta ilegal de informações no início do julgamento.
"A MGN pede desculpas sem reservas por todas essas instâncias", diz a declaração do editor - escrita em um processo judicial de 10 de maio - segundo a BBC, "e garante aos reclamantes que tal conduta nunca será repetida". A empresa acrescentou que a violação em questão, que não faz parte de seu processo contra a MGN, "merece indenização".
O pedido de desculpas também surgiu um mês depois de ter sido revelado que o irmão de Harry, príncipe William, havia resolvido em particular o caso do hacking por uma "soma muito grande".
Durante seu depoimento, o duque de Sussex tocou em tudo, desde o relacionamento de sua falecida mãe, princesa Diana, com a imprensa, até sua separação com Chelsy Davy.
O Palácio de Buckingham não comentou sobre o julgamento em andamento.
Veja abaixo as revelações do príncipe em sua aparição no tribunal:
Príncipe Harry culpa a imprensa pelo rompimento com Chelsy Davy
Em sua declaração escrita publicada pelo NYT, o duque de Sussex alegou que a invasão da imprensa colocou "uma enorme quantidade de estresse e tensão desnecessários" em seu relacionamento com Chelsy Davy, com quem ele namorou de 2004 a 2010. Ele também relembrou uma viagem com Chelsy a Bazaruto, na qual afirma que jornalistas e fotógrafos do MGN, assim como de outras agências, conseguiram chegar e "fazer reserva no hotel antes de chegarmos lá".
"Acredito agora que eles divulgaram nossos detalhes de voo e reservas de hotel e/ou interceptaram nossas mensagens de voz", escreveu ele. "Nunca estivemos sozinhos e pudemos aproveitar a companhia um do outro longe dos olhares indiscretos dos tabloides."
Príncipe Harry acrescentou que a pressão "a levou a tomar a decisão de que uma vida real não era para ela, o que foi incrivelmente perturbador para mim na época".
Princesa Diana acreditava que suas mensagens privadas eram ouvidas
Harry afirmou em sua declaração por escrito que sua falecida mãe, princesa Diana, também acreditava que suas mensagens privadas foram ouvidas usando métodos ilegais nos meses que antecederam sua morte em agosto de 1997 - uma noção que o faz "sentir-se fisicamente doente".
Mais especificamente, ele apontou que ficou "chocado, enojado e chocado quando meus advogados me mostraram três cartas escritas à mão por ela para a conhecida personalidade da televisão Michael Barrymore", um comediante britânico e amigo da falecida princesa. Harry então revelou uma suposta passagem de uma carta de março de 1997 endereçada a ele, alegando que a imprensa estava ciente de detalhes privados de sua amizade.
"Fiquei arrasada esta noite ao saber que o Daily Mirror [sic] telefonou para o meu escritório para perguntar detalhes sobre seis reuniões que deveriam ter ocorrido entre nós, ninguém ao meu redor sabia do nosso plano de domingo à noite", ela escreve, de acordo com sua declaração: "Eu nunca faria nada para lhe causar qualquer angústia pessoal e só me resta dizer o quanto lamento profundamente que o que considerava um assunto privado e precioso se tornou propriedade pública."
Harry escreve que "só pode presumir que essas informações foram obtidas por meio de interceptação de correio de voz e/ou outra coleta ilegal de informações, como escutas telefônicas ao vivo".
De acordo com o The Guardian, o The Mirror respondeu sobre a alegação de que as mensagens de voz de Diana foram hackeadas, afirmando que é "especulação total sem qualquer base de evidência".
Príncipe Harry critica Piers Morgan por sua cobertura sobre princesa Diana
Em sua declaração, o duque de Sussex também se dirigiu diretamente ao comentarista Piers Morgan, que atuou como editor do Daily Mirror de 1995 a 2004.
"A atenção de Piers Morgan e seu bando de jornalistas escutando as mensagens privadas e sensíveis de minha mãe (da mesma forma que eles fizeram comigo)", escreve ele, "e depois dando a ela um pesadelo três meses antes de sua morte em Paris, me faz sentir fisicamente doente e ainda mais determinado a responsabilizar os responsáveis, incluindo o Sr. Morgan, por seu comportamento vil e totalmente injustificado.
O E! News entrou em contato com Morgan para comentar e não obteve resposta.
Príncipe Harry aborda relatos de James Hewitt ser seu pai biológico
A realeza também abordou relatos de rumores de que o ex-oficial de cavalaria James Hewitt - que alegou ter um caso com princesa Diana durante seu casamento com o agora rei Charles - era seu pai biológico.
"Vários jornais relataram um boato de que meu pai biológico era James Hewitt, um homem com quem minha mãe teve um relacionamento depois que eu nasci", escreveu Harry em seu comunicado. "Na época deste artigo e de outros semelhantes a ele, eu não sabia que minha mãe só conheceu o major Hewitt depois de eu ter nascido."
Ele também explicou como essas matérias conseguiram prejudicá-lo ainda mais.
"Na época, quando eu tinha 18 anos e havia perdido minha mãe apenas seis anos antes, histórias como essa foram muito prejudiciais e muito reais para mim", continuou ele. "Elas foram dolorosas, mesquinhos e cruéis. Sempre fiquei questionando os motivos por trás das histórias. Os jornais estavam ansiosos para colocar dúvidas na mente do público para que eu pudesse ser expulso da família real?"
Este não é o primeiro processo que o duque de Sussex abriu contra um tabloide pertencente à editora, já que o ruivo também está no meio de um processo de difamação em andamento contra o Mail on Sunday.
Em julho, príncipe Harry venceu a primeira fase do processo contra a publicação. Um juiz da Suprema Corte determinou que partes de um artigo publicado pelo jornal do Reino Unido, que discutia o processo legal de Harry contra o governo sobre medidas de segurança, eram, de fato, difamatórias.
O E! News entrou em contato com o Mail on Sunday na época da decisão e a publicação se recusou a comentar.